quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Silêncios

Encontrei um hotel, desses quase escondidos no meio dos prédios gigantes da cidade. Entrei, perguntei o preço. Precisava de algumas horas de sono para continuar a caminhada.
Deitei numa cama com colchão de molas. Os lençóis tinham cheiro de cânfora. Olhava para o ventilador de teto e ele girava mais rápido que meus pensamentos podiam alcançar. Eu girava junto, num teletransporte para lembranças adormecidas em meu inconsciente. Desliguei e liguei o ar condicionado.
Acordei de repente . Ainda com a roupa de ontem, sem banho, sem rumo. Susto, levantei num pulo.
Banho, roupa trocada, não dá mais pra voltar a dormir.
Estava sozinha. Com todas os significados que essa palavra pode soar. Muito sozinha. E como eu queria estar sozinha! E num momento não sabia mais se eu era sozinha sem ele. A gente era sozinho junto também. Liguei:

- Alô?
- 5 e meia da manhã, é dia ou noite?
- Você já dormiu?
- Dormi `as 9h, acordei `as 2h, e agora são 5, faz diferença se eu dormi?
- Faz, mas não consigo definir se é dia ou noite pelo seu relato. Acho que só é dia quando o sol começa a dar o ar da graça, agora já está amanhecendo aí?
- Não sei, eu fechei as cortinas todas, liguei o ar e aqui agora faz um outono gostoso, com barulhinho de garoa. Mas eu não consigo mais dormir.
- ...
-  Eu precisava de silêncio. Do meu silêncio. Porque a gente fica cheio do silêncio dos outros também. A gente acha que o silêncio do outro significa alguma coisa quando na verdade o silêncio é só o silêncio.
- É dia!
- O silêncio?
- 5 horas, é dia!
- Que horas são aí?
- Meio dia
- E é dia?
- Passou a ser quando você me acordou.

(to be continued)

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