quinta-feira, 21 de maio de 2020

construções

A gente constrói casas, cofres e relacionamentos como se tudo fosse feito da mesma matéria, e como se estivéssemos protegidos nesses espaços. A gente faz mapas, programa viagens, define metas, prazos. A gente coloca o tempo em caixinhas de semanas meses e anos. A gente finge que controla tudo, e o universo sempre mostra nossa ilusão tão bem construída por comprovações científicas. O tempo segue, não linear, levando e trazendo.
Mas a lei da impermanência (essa única lei imutável do universo) diz que tudo está em constante mudança, em constante expansão, em constante desenvolvimento, em constante caos (talvez o caos seja minha visão). 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

pedacinho de desabafo

queria dizer que sonho com você e que ao mesmo tempo que não quero mais te ver eu quero muito te abraçar de novo que eu vomito palavras pra esconder sentimentos e que eu não sei nem o que sentir direito e que eu emudeço e que eu grito e que eu engasgo e que eu choro muito quando estou sozinha

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Quero que o tempo pare, que meu tempo espere, que o tempo dê um tempo ao tempo.
Quero acelerar o tempo para um tempo que não tem tempo. Aquele tempo que eu sempre quis. Sem dor.
Quero um tempo para o meu tempo. Quero esse tempo de volta.
Quero histórias.
Invento tempos.
Colho amores.
Acordo tempos.
Acordo jeitos.
Acordo esperança, já sem tempo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Reciclagem

Comecei a jogar tudo fora. Meus cadernos, minhas roupas, meus livros. Tudo o que não cabia mais em mim. Eu estava transbordando de coisas que não eram mais minhas, mas que estavam ali, me ocupando todos os dias. 
Joguei pela janela uns sonhos que achei que eram reais. Joguei umas cartas que escrevi pra mim mesma. Joguei estrelas. Reciclo amor, pode pegar! 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Silêncios

Encontrei um hotel, desses quase escondidos no meio dos prédios gigantes da cidade. Entrei, perguntei o preço. Precisava de algumas horas de sono para continuar a caminhada.
Deitei numa cama com colchão de molas. Os lençóis tinham cheiro de cânfora. Olhava para o ventilador de teto e ele girava mais rápido que meus pensamentos podiam alcançar. Eu girava junto, num teletransporte para lembranças adormecidas em meu inconsciente. Desliguei e liguei o ar condicionado.
Acordei de repente . Ainda com a roupa de ontem, sem banho, sem rumo. Susto, levantei num pulo.
Banho, roupa trocada, não dá mais pra voltar a dormir.
Estava sozinha. Com todas os significados que essa palavra pode soar. Muito sozinha. E como eu queria estar sozinha! E num momento não sabia mais se eu era sozinha sem ele. A gente era sozinho junto também. Liguei:

- Alô?
- 5 e meia da manhã, é dia ou noite?
- Você já dormiu?
- Dormi `as 9h, acordei `as 2h, e agora são 5, faz diferença se eu dormi?
- Faz, mas não consigo definir se é dia ou noite pelo seu relato. Acho que só é dia quando o sol começa a dar o ar da graça, agora já está amanhecendo aí?
- Não sei, eu fechei as cortinas todas, liguei o ar e aqui agora faz um outono gostoso, com barulhinho de garoa. Mas eu não consigo mais dormir.
- ...
-  Eu precisava de silêncio. Do meu silêncio. Porque a gente fica cheio do silêncio dos outros também. A gente acha que o silêncio do outro significa alguma coisa quando na verdade o silêncio é só o silêncio.
- É dia!
- O silêncio?
- 5 horas, é dia!
- Que horas são aí?
- Meio dia
- E é dia?
- Passou a ser quando você me acordou.

(to be continued)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

mormaço

Ele a observava deitado de bruços. Olhar interessado, como quem assiste ao programa favorito na TV. Eles não falavam, mas seus pensamentos eram audíveis pelas pupilas.
Ela estalava os dedos. Olhava o céu. Intimava as nuvens.
Ele apenas observava.
Ela não sorri. Ele, quase.
Faz muito calor. Suor e uma garrafinha de água compartilhada.
O tempo parou, como o ar que parecia não circular naquela tarde de terça feira.